domingo, 8 de dezembro de 2013

VOZES ANOITECIDAS


Publicado pela primeira vez em 1986, Vozes anoitecidas projetou o escritor moçambicano Mia Couto para o mundo. Conhecido até então por seu trabalho como jornalista e poeta, o autor - hoje tido como um dos mais influentes escritores da língua portuguesa - lançou aqui as bases daquela que viria a ser uma das principais características de sua obra ficcional: a reconstrução de laços entre registro oral e escrito.
Em doze pequenos contos, um rol de personagens esfarrapados e alheios ao palco principal dos acontecimentos narra, de seu ponto de vista marginal, histórias que flertam com o mágico e com o absurdo sem, no entanto, desviarem-se completamente do plano factual.
Em “As baleias de Quissico”, Jossias aguarda a chegada de um animal marinho de cuja boca, acredita, brotará “amendoim, carne, azeite de oliva e bacalhau”. Mas como saber se o animal existe, se ele jamais viu uma baleia? O enorme monstro que aporta sem ser visto pode ser tanto o misterioso “peixe grande” como um submarino carregado de armamentos ilegais. Jossias prefere acreditar no sonho e, como ele, outros personagens de Vozes anoitecidas encontram mais razão na fantasia que na lógica da guerra e da privação.
Ao promover uma espécie de vertigem, sob efeito da qual não se pode afirmar se uma narrativa é absurda ou se absurda é a realidade de que ela trata, o autor apresenta a perplexidade como ponto de partida para o fazer literário.

(disponível em: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=13419, acesso em 8/12/13)


terça-feira, 12 de novembro de 2013

A LINGUAGEM DE LOLITA



MACHADO E SEUS DUPLOS

Antonio Carlos Secchin analisa o penúltimo romance de Machado de Assis

No centenário de Esaú e Jacó: Machado e seus duplos

É lugar-comum afirmar a existência de uma “fase madura” na ficção de Machado de Assis, a partir da publicação, em 1881, das Memórias póstumas de Brás Cubas. Mais  incomum é a ênfase, não diríamos  numa possível “terceira fase”, mas  numa inflexão da segunda, com os romances Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908). Em ambos observa-se um narrador menos cáustico   na avaliação das  mazelas humanas. A corrosiva ironia de obras anteriores cede lugar a uma (até certo ponto)  tolerante compreensão   da fragilidade terrena. Não havendo conserto para o desconcerto do mundo, melhor é assistir ao espetáculo de camarote – sem deixar, é claro, de  alfinetar,  aqui e acolá,  o mau desempenho dos atores,  num riso mais complacente do que cruel. Tal parece ser  a divisa do narrador (e importante personagem) dos derradeiros romances machadianos,  o Conselheiro Aires.

Na “Advertência” à primeira edição de Esaú e Jacó, somos informados de que, no espólio de Aires, foram localizados sete cadernos; seis deles comporiam o Memorial, e o Último (assim cognominado) corresponderia ao romance que então se publicava. Inicia-se  um sutil jogo de inversões, na medida em que o “último” (rebatizado com o nome de  Esaú e Jacó) foi o “primeiro” a surgir, enquanto os supostos seis cadernos anteriores,  do Memorial,  só  viriam à estampa quatro  anos depois. O famoso defunto-autor Brás Cubas cede voz, agora, a um  autor-defunto,  Aires.

Pela primeira vez, dois personagens nomeiam   um romance (em oposição aos títulos anteriores, centrados num personagem único,  de Helena a Dom Casmurro). A esse duplo bíblico – Esaú e Jacó – corresponderão, no texto, os gêmeos  Pedro e Paulo – duplo do duplo, portanto.

 A ironia machadiana, neste romance, não se fará muito  perceptível,  porque  se tornará menos circunstancial e mais estrutural: vai incidir não apenas  em anedotas, mas no princípio interno de organização da obra. No que tange  às peripécias,  e para não irmos além dos capítulos iniciais, lembremo-nos de que duas irmãs sobem o morro para consultar uma cabocla, esbarram em dois sujeitos, recebem o cartão de consulta número 1012, dão esmola de dois mil-réis; o narrador adverte que os oráculos têm um falar dobrado.  Santos, marido de Natividade, consulta uma segunda adivinha, de linhagem espírita.

De modo  esquemático, podemos entender o  livro como uma irônica  produção  de duplos em que os termos, em vez de serem idênticos (pois duplicados),  acabam, apesar da semelhança, ou talvez por causa dela,   tornando-se radicalmente opostos ou antagônicos entre si. O exemplo mais cabal desse  dissenso é fornecido pelos próprios gêmeos: idênticos  fisicamente, diversos  (ou até beligerantes) em todo o resto. Pedro, monarquista e recatado;  Paulo, republicano e impetuoso.  A anulação das diferenças restauraria o “dois-em-um perfeito”, a unidade primordial anterior a qualquer fratura ou cisão. A vivência da fragmentação transforma-se  assim, e insuportavelmente, na sequela de um  paraíso perdido.  A heroína  Flora, dividida no amor pelos gêmeos, representa ao mesmo tempo o desejo e o malogro da reconstituição de um tempo e espaço  inteiriços. Não por acaso, uma bem-orquestrada simbologia edênica acompanha, em baixo-contínuo,  a  caracterização da  personagem. Numa clave metafórica, Flora não produz frutos: estiola-se,  eteriza-se,  estéril, e morre à míngua do impossível. Incapaz de fazer dos gêmeos  uma só pessoa, acaba perdendo ambos, e a vida. “Inexplicável” é o adjetivo com  que  Aires tentou, em vão,  explicá-la.

Já se interpretou   Esaú e Jacó como crítica à organização social e política do Brasil na passagem do Império à República. É certo, mas é pouco. O enredo registra, de fato,  alguns dos mais cruciais eventos do final do século XIX no Brasil, mas seria decepcionante tentar informar-se deles tomando por base  o  registro factual, de escassas linhas, com que se inscrevem no livro. O turbilhão de época ecoa filtrado na dimensão dos gestos mínimos. Em Machado, o fato é (quase) nada; o olhar é tudo. Para saber de um  homem, não se precisa  ver o que ele  vê; basta,  sim,  vê-lo ver, e, sobretudo, vê-lo ver-se.  Mais do que  cronista histórico ou romancista de costumes (etiqueta  que explicitamente rejeitou em Ressurreição, de 1872),  Machado é um romancista dos “maus costumes”,  da inconstante e dúbia  consciência individual. Muitas matérias de interesse aparentemente  público são   dimensionadas unicamente  pelos dividendos de satisfação  ou ganho particular  que proporcionarão  a seus agentes.  O episódio em que o comerciante Custódio, numa  época de convulsões políticas,  não sabe se mantém no seu estabelecimento o nome de “Confeitaria do Império”,  ou se aproveita a ocasião  para logo rebatizá-lo de “Confeitaria da República”, é bem sugestivo. O que o move é o oportunismo (ou a “adequação ao contexto”, se preferirmos o cínico eufemismo); a ideologia é secundária, quando gera polêmica ou  sangra o bolso.

O romance, cujo centenário de publicação este ano se comemora, não é, certamente, o livro  machadiano de  maior ressonância junto ao público contemporâneo,  apesar de, à época do lançamento, ter obtido acolhida extremamente favorável. A rarefação do enredo (as coisas acontecem pouco, e devagar),   aliada à  costura mais distensa do tecido narrativo,  acaba   gerando um mosaico  de   episódios atomizados, que nem sempre se imbricam, frustrando os leitores ávidos de peripécias abastecidas na causalidade. O apelo amoroso-sentimental do livro também é tíbio, se contrastarmos a pudica e delicada  Flora com  suas carnais e robustas antecessoras Virgília, Sofia e Capitu. Por outro lado, a consciência metalinguística do escritor  se revela  mais aguda do que nunca.  Atentando para o nome das personagens,   logo  detectaremos predestinação  ou (com mais freqüência) ironia. Natividade encarna uma vocação relutante para tornar-se mãe. Ela, que também é Maria, casa-se com Santos, que também é José, e ambos ficam amigos do casal Batista. Perpétua nega  as leis  de perpetuação da espécie: é viúva sem filhos. O inescrupuloso Nóbrega não possui  alma nobre nem caridade cristã. A cabocla com raízes  africanas se chama Bárbara.  No capítulo XII,  o  moderado e conciliador Aires se encontra em casa de Plácida, retornando de missão no Pacífico...

  Esaú e Jacó foi o derradeiro  romance de Machado a ser  lido por sua esposa Carolina, que morreria em outubro de 1904, e a  cuja memória o  escritor ainda renderia  homenagem   no  Memorial de Aires, através da criação de  uma  personagem, dona Carmo,  inspirada na falecida mulher. Tal fonte de inspiração, às vezes contestada, não  deveria ser objeto de controvérsia, uma vez que o próprio Machado a confirmou, conforme depoimento  publicado em Alguns  escritos (1910), de Mário de Alencar.

 A imaginação de Machado produziu algumas das mais notáveis personagens femininas de nossa literatura, fascinantes pela complexidade e pela divergência de caracteres que apresentam  entre si. Com a cautela necessária para evitar-se um  biografismo redutor, seria interessante  efetuar-se um estudo detido de nossos  grandes escritores pelo prisma das marcas textuais que lhes foram impressas por   suas mulheres, verificando a  intensidade e o teor dessa presença na fatura da obra, e observando  ainda de que modo  os seres de papel ratificam  ou retificam os seres reais de que eventualmente se  teriam originado. Para nos restringirmos ao  século XIX,  e a dois gêneros literários, logo ocorreriam os nomes de Eugênia Câmara, para a poesia de  Castro Alves, e de Carolina, para a ficção de Machado. A primeira, musa arrebatadora, volúvel, parceira  vulcânica de um autor existencial  e liricamente em perpétua ebulição; Carolina,   comedida, na imagem doméstica de um amor fiel  e sem sobressaltos. As  obras de um e de outro escritor certamente  não seriam o que  foram, sem a presença  –  na graça ou na desgraça – de suas companheiras.

In: Memórias de um leitor de poesia. Rio de Janeiro: Topbooks, 2010. p.99-104.  

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O próximo encontro do Legere será na próxima quinta-feira, dia 26 de setembro, das 19h30 às 21h30, sempre na Casa das Rosas.
Desta vez discutiremos O africano, de J. Le Clézio.
Para alimentar a discussão, seguem dois textos a respeito da obra.
Boa leitura e até quinta!

http://www.uniaraxa.edu.br/ojs/index.php/evidencia/article/view/348

http://www.filologia.org.br/soletras/22/06.pdf


terça-feira, 10 de setembro de 2013

GEOGRAFIA DOS SENTIMENTOS



http://g1.globo.com/platb/maquinadeescrever/2008/10/09/premiado-com-o-nobel-le-clezio-faz-geografia

O africano

Todo ser humano é um resultado de pai e mãe. Pode-se não reconhecê-los, não amá-los, pode-se duvidar deles. Mas eles aí estão: seu rosto, suas atitudes, suas maneiras e manias, suas ilusões e esperanças, a forma de suas mãos e de seus dedos do pé, a cor dos olhos e dos cabelos, seu modo de falar, suas ideias, provavelmente a idade de sua morte, tudo isso passou para nós.
Por muito tempo sonhei que minha mãe era negra. Inventei-me uma história, um passado, para escapar da realidade em meu retorno da África, neste país, nesta cidade onde eu não conhecia ninguém, onde me tornara um estrangeiro. Depois descobri, quando meu pai, na idade da aposentadoria, retornou para viver conosco na França, que o Africano era ele. Foi difícil admitir isso. Tive de voltar atrás, de recomeçar, de tentar compreender. Em memória disso escrevi este pequeno livro.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Discussão sobre O vermelho e o negro


Qual teria sido o motivo de Stendhal ter nomeado sua "crônica de 1830" de O vermelho e o negro? Vamos discutir esse e outros temas tratados no livro amanhã, dia 1/8, na Casa das Rosas, das 19h30 às 21h30. Apareça!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O VERMELHO E O NEGRO

O protagonista desta obra eterna é o jovem Julien Sorel, "um homem infeliz em guerra com a sociedade", na definição de seu criador. Seu trágico destino foi inspirado num evento real, ocorrido em Grenoble: condenado pelo assassinato de uma ex-amante, cometido no interior de uma igreja, um seminarista de 26 anos, Antoine Berthet, foi executado na guilhotina em fevereiro de 1828. A partir desse fato rumoroso, Stendhal (1783-1842) entreviu a possibilidade de fazer o que chamou de "crônica do século XIX", um ácido retrato da França da Restauração pós-napoleônica, política e moralmente conservadora. Muito do encanto irrepetível e da inesgotável vitalidade de O vermelho e o negro reside na tensão entre as dimensões realista e romântica, entre a crônica quase jornalística dos fatos exteriores e a construção trágica do destino dos personagens, especialmente do protagonista, suspenso no descompasso entre sua alma ardente e o tempo mesquinho que lhe tocou viver.

Autor: Stendhal 
Tradução: Raquel Prado 
Posfácio: Heinrich Mann 
Apresentação: Tarsila do Amaral 
Idioma: Português 
Coleção: Prosa do Mundo
Cosac Naify 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

OS MALAQUIAS

A discussão do romance será hoje, 6/6, excepcionalmente das 19h30 às 20h30, na Casa das Rosas. Após a discussão e a escolha do próximo livro, estão todos convidados para o lançamento do livro Na Lata, de Frederico Barbosa, no saguão da casa.

sábado, 4 de maio de 2013

O conto, pérola literária

Rica e deliciosa conversa entre Mona Dorf e Ivan Marques com o premiado e sensível contista João Carrascoza na Biblioteca de São Paulo.
Para nós, do LEGERE, que também lemos contos (de Ondjaki e Borges), vale a pena assistir.

http://youtu.be/eVyHnFOfnk8

LEGERE no Facebook

Agora o Legre também tem página no Facebook, com o mesmo nome. Vai lá!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Palavra de Borges

Assista à última entrevista televisiva concedida pelo autor em 1985:

http://www.youtube.com/watch?v=egf5maVNYGA

sábado, 6 de abril de 2013

Ozon e as artimanhas da ficção

Um filme para quem, como nós, do Legere, é amante de literatura.


http://www.blogdoims.com.br/ims/ozon-e-as-artimanhas-da-ficcao/

sábado, 23 de março de 2013

A hora e a vez da prosa

Matéria publicada na revista e, de fevereiro de 2013, fala do mercado literário nacional e da nova geração de ficionistas brasileiros


Andrea del Fuego, autora de Os Malaquias, vencedor do Prêmio José Saramago de 2011










Leia aqui:  http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=459&Artigo_ID=6893&IDCategoria=7960&reftype=2

domingo, 10 de março de 2013

Três vezes Mrs. Dalloway

Artigo sobre as traduções de Mrs. Dalloway para o português

http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/02/25/tres-vezes-mrs-dalloway-433209.asp

Os filmes

Para você, que já leu Mrs. Dalloway, vai aí o link do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=w227rhzbQ_c
E também o link do trailer do excelente As horas,  baseado no romance do mesmo nome, que tem o livro Mrs. Dalloway como inspiração:
http://www.youtube.com/watch?v=he8cR7skklA

quarta-feira, 6 de março de 2013

Prontos para ler Mrs. Dalloway

Elaian, Ruth, Luciana, Silvinha e Claudio
Deixando a Sala 1 da Casa das Rosas, depois do encontro do dia 28/2, o pequeno mas seleto grupo do Legere (com exceção da Meire, que fez a foto) sai feliz e renovado com a discussão final sobre D. Quixote.

sexta-feira, 1 de março de 2013

MRS. DALLOWAY

Março, mês da mulher, e Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, foi o livro escolhido pelo grupo.


[creditofoto]

Virginia Woolf nasceu em Londres, em 1882. Filha de um editor, Sir Leslie Stephen, ela recebeu uma educação esmerada, frequentando desde cedo o mundo literário.
Em 1912, casa-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que revelou escritores como Katherine Mansfield e T.S. Eliot.
Fez parte do grupo Bloomsbury, círculo de intelectuais sofisticados que, passada a I Guerra Mundial, investiria contra as tradições literárias, políticas e sociais da era vitoriana.
As primeiras obras de Virginia Woolf foram The Voyage Out (1915) e Noite e Dia (1919). Em Mrs. Dalloway (1925), Virginia Woolf emprega recursos narrativos inovadores para retratar a experiência individual. O mesmo ocorre com Rumo ao Farol (1927).
Em 1928, publica Orlando, fantasia histórica que evoca com brilho e humor a Inglaterra da era elizabetana. Nesse período, Woolf faz as famosas conferências para estudantes dos grandes colégios femininos de Cambridge, nas quais mostra sua verve feminista.
Em 1931, publica As Ondas, uma de suas obras mais importantes. Seis anos mais tarde, lança Os Anos.
Toda a vida de Virginia Woolf foi dedicada à literatura. Em 1941, vítima de grave depressão, ela se suicida, deixando considerável número de ensaios, extensa correspondência e o romance Entre os Atos (1941).
(do Banco de Dados da Folha, disponível em http://educacao.uol.com.br/biografias/virginia-woolf.jhtm, acesso em 1/3/13)

Saiba mais sobre Mrs. Dalloway
Conheça a sociedade Virgina Woolf

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DOM QUIXOTE chega ao final

A discussão final do primeiro volume de D. Quixote será na próxima quinta-feira, dia 28/2, das 19h30 às 21h30, na Casa das Rosas.
Esperamos você!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

D. Quixote, caminhos e descaminhos do herói

A especialista Maria Augusta da Costa Vieira falará sobre D. Quixote na Biblioteca Mário de Andrade.
O ciclo de palestras sobre romance de formação tem programação gratuita. Imperdível. Confira programação no site: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bma/noticias/?p=12000

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Rir e chorar com a mágica utopia de D. QUIXOTE DE LA MANCHA

Esse interessante programa, produzido pelo canal Discovery Civilization, além de realçar a riqueza da obra-prima de Miguel de Cervantes, sua complexidade e profundidade, traz à tona um autor que, à sua época, foi o que se poderia chamar de "celebridade pobre" e que já possuía um olhar crítico da sociedade, percebendo a realidade do mundo como um complexo arranjo (ou desarranjo), numa grande diversidade de classes e povos. Talvez a riqueza maior desse homem tenha sido o fato de que, assim como seu clássico personagem, Cervantes não perdeu a capacidade de reiventar-se e seguir na busca daquilo que seria mais nobre na alma humana, a capacidade de sonhar.

 http://www.youtube.com/watch?v=fMy4lyZfAgE

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

DON QUIJOTE, hijo de sus obras

O trecho de Miguel de Unamuno esclarece sobre o sentido de fidalgo, atribuído a Dom Quixote:

"Y luego se lo puso a si mismo, nombre nuevo, como convenía a su renovación interior, y se llamó Don Quijote, y con este nombre ha cobrado eternidad de fama. E hizo bien en mudar de nombre, pues con el nuevo llegó a ser de veras hidalgo, si nos atenemos a la doctrina del dicho doctor Huarte, que en la ya citada obra nos dice: "El español que inventó este nombre, hijodalgo, dio bien a entender...que tienen los hombres dos géneros de nacimiento. El uno es natural, en el cual todos son iguales, y el otro espiritual. Cuando el hombre hace algún hecho heroico o alguna extraña virtud y hazaña, entonces nace de nuevo y cobra otros mejores padres, y pierde el ser que antes tenía. Ayer se llamaba hijo de Pedro y nieto de Sancho; ahora se llama hijo de suas obras"

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A leitura tem que "picar" o leitor?

Franz kafka (em carta a oskar pollak):

“No fim das contas, penso que devemos ler somente livros que nos mordam e piquem. Se o livro que estamos lendo não nos sacode e acorda como um golpe no crânio, por que nos darmos o trabalho de lê-lo? Para que nos faça feliz, como diz você? Seríamos felizes da mesma forma se não tivéssemos livros. Livros que nos façam felizes, em caso de necessidade, poderíamos escrevê-los nós mesmos. Precisamos é de livros que nos atinjam como o pior dos infortúnios, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido banidos para a floresta, longe de qualquer presença humana, como um suicídio. É nisso que acredito.”